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Agronegócios

Iniciativa de abertura para carne suína americana é vista como razoável para exportação de carne bovina brasileira aos EUA


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A ministra da Agricultura Tereza Cristina está voltando da viagem aos Estados Unidos com a promessa de que o governo americano vai anunciar brevemente a vinda de uma missão para inspecionar frigoríficos e possivelmente voltar a liberar a entrada da carne in natura brasileira. Na contramão, o Brasil estudaria protocolos sanitários para liberar o mercado interno à carne suína dos EUA, além de já ter oferecido uma cota livre às importações de trigo conforme foi anunciado durante a visita do presidente Jair Bolsonaro.

Enquanto se aguarda mais informações, o que deve ocorrer nos próximos dias, alguns agentes dos dois setores não estão vendo nessa troca de “carne por carne”, se de fato for confirmada, um problema econômico sério. Fazem observações, dentro das especificidades de cada atividade, mas entendem que a iniciativa brasileira é muito importante.

Seja para mostrar que o País “mudou e tem boa vontade de negociar”, como lembrou Lozivanio Luis de Lorenzi, presidente da entidade dos criadores de suínos de Santa Catarina (ACCS), seja até para reparar “a irresponsabilidade que foi o caso do abscesso na nossa carne em 2017, ainda que o risco sanitário tenha sido zero”, segundo Pedro de Camargo Neto, pecuarista e vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).

Pode-se dizer que é até normal, portanto, diante do histórico.  

Suínos

A possível abertura ao suíno americano não assusta, num primeiro momento, porque o custo de produção lá é alto, e o produto chegaria ao Brasil com pouca competitividade, explica De Lorenzi. Nem tampouco se espera que o país vá subsidiar vendas ao Brasil, como entende Camargo Neto.

Mas fica, segundo eles, em aberto alguma necessidade de reciprocidade para o suíno brasileiro, especialmente o de Santa Catarina, na América do Norte. Reciprocidade que também pede a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), apesar de se manifestar, em nota, pela abertura.

Os EUA liberam apenas um corte de costelinha para somente duas plantas autorizadas, o que é muito pouco para a ACCS, tanto que apenas 2 contêineres mensais seguem para lá. O Brasil, portanto, poderia seguir na mesma direção, impondo os cortes.

Da mesma forma, o presidente da entidade catarinense acredita que o Mapa poderia também exigir que missões técnicas brasileiras fossem realizadas naquele território. Mesmo que não se conheça problemas sanitários nos suínos americanos, essas visitas técnicas são protocolares.

Já para o produtor independente Wienfried Mathias Leh, do Grupo Leh, de Guarapuava (PR), a entrada do produto dos Estados Unidos, grande concorrente internacional do Brasil, seria boa para regular os preços aqui. Para ele, a cotação no mercado interno acabaria sendo influenciada pelos preços do mercado mundial, o que só acontece se passássemos a importar.

Bovinos

A paralisação do mercado americano à carne bovina, em 2017, em decorrência de abscessos na carne por origem vacinal, representou duro golpe às exportações que mal haviam sido liberadas. Pedro de Camargo Neto lembra que em quatro meses o Brasil já havia vendido mais que a cota imposta, além do que os Estados Unidos são referência e formadores de opiniões para outros mercados exigentes, como Coreia do Sul e Japão.

O setor evita comentar se é justo, para a suinocultura, a troca que aparenta estar ocorrendo, diante das informações que chegam da comitiva brasileira nos encontros de Washington.

Camargo Neto, que já foi negociador internacional tanto para governos brasileiros quanto de entidades como Abiec e ABPA, pensa, no entanto, que não se deveria misturar questões sanitárias com comercias, mas sabe que o “pragmatismo” dos negociadores americanos acaba prevalecendo.

No Frigorífico Mercúrio, do Pará, a expectativa é que se há essa negociação envolvendo as duas proteínas, que seja rápida. Daniel Freire, diretor, acredita que a pecuária exportadora precisa do mercado dos Estados Unidos, sobretudo diante das notícias pouco animadoras da China, que recusou a liberação de mais plantas no Brasil, além da Rússia, que só mantém abertas 5 plantas exportadoras.

Já o presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), Maurício Velloso, também está animado e vê o gesto brasileiro, mais pró-ativo que o americano – inclusive como pensa também o vice da SRB -, como normal diante das circunstâncias gerais do relacionamento bilateral entre os dois países.

“E o Brasil sempre trabalhou o comércio exterior do agronegócio de forma primária”, diz, acentuando que não é só os Estados Unidos que são pragmáticos nas relações comerciais, ou seja, primeiro pedem e depois oferecem, mas “todos nossos parceiros e adversários também o são”.

Ele espera, no entanto, para ver se o lobby americano das carnes vai ter alguma influência se de fato os Estados Unidos caminharem na direção da liberação da carne bovina in natura.

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